Congresso Internacional de Felicidade é exemplo de inclusão e acolhimento

Maior evento de autoconhecimento e bem-estar da América Latina oferta ingressos gratuitos para pessoas com deficiência e surdas, moradores de favelas e indígenas

Realizado em Curitiba desde 2016, o Congresso Internacional de Felicidade, cuja próxima edição acontece nos dias 18 e 19 de novembro, passou a ser conhecido também como exemplo de evento com inclusão e acessibilidade. Desde 2019, a organização oferece um lote de ingressos gratuitos para pessoas com deficiência, surdos, moradores de favelas e indígenas.

“Quando falamos sobre felicidade em seu aspecto mais amplo, ela deve ser acessível a todos, independente de condição social ou física. Por isso fazemos questão de convidar essas populações para o Congresso, além de criar uma atmosfera de acolhimento e pertencimento no evento – seja com audiodescrição, seja com tradução em libras, no acompanhamento, ou mesmo em colocar essas pessoas em contato direto com os palestrantes”, explica o idealizador e organizador do Congresso, Gustavo Arns. “E o feedback dessas pessoas que já participaram é muito gratificante para nós; muitas relatam ter mudado completamente seu ponto de vista sobre o tema”, completa.

No caso dos moradores de favelas, os ingressos foram distribuídos em parceria com a Central Única das Favelas (Cufa) do Paraná. “Para nós, como instituição, foi muito importante participar do Congresso – não apenas como palestrante, mas também por essa acolhida que foi proporcionada por meio desse braço social do evento, ao disponibilizar cortesias para que algumas pessoas da favela pudessem estar presente”, avalia o psicólogo José Antônio Campos Jardim, presidente da Cufa-PR.

Kawe Derik e Kawany Eduarda da Silva Mendes puderam ir ao Congresso de Felicidade de 2022 graças às cortesias distribuídas pela Cufa-PR.

“A princípio o convite despertou muita curiosidade, ainda mais porque a felicidade nesses territórios está pautada a partir das conquistas básicas do dia a dia, e mesmo na simples existência dessas pessoas. Para muitos foi um choque saber que eles também podem entender e buscar a felicidade de outras formas. Uma felicidade que procura entender e acolher o outro – nesses territórios, a felicidade pode estar no compartilhar um copo de açúcar ou no ato de cuidar do filho do vizinho que vai trabalhar e não tem com quem deixar. Assim como as conquistas, a felicidade também pode ser compartilhada”, complementa.

O Congresso de Felicidade também foi um marco na vida de Dayane Bubalo Mendes, que é deficiente visual – ela perdeu a visão de uma hora para outra, em 2009. “Quando fui convidada eu não sabia o que esperar, nem como funcionaria. Eu estava passando por um processo delicado, numa transição de carreira, e não sabia exatamente o que fazer. E o Congresso foi realmente uma virada de chave na minha vida. O acolhimento, tanto da equipe como dos próprios palestrantes e dos organizadores, fez toda a diferença. Nós, pessoas com deficiência visual, só podemos estar definitivamente incluídos por meio da audiodescrição. Lembro bem da palestra do Jorge Trevisol, que canta um mantra e pede para fazermos alguns movimentos, e isso só foi possível por causa da audiodescrição – senão ficaríamos sentados lá sem saber o que fazer”, comenta.

“É de suma importância a organização abrir esse espaço de cortesia para nós, para que possa haver cada vez mais pessoas com deficiência envolvidas no meio cultural, nos debates filosóficos, até para acabar com o estigma de que pessoas com deficiência ‘não tem estudo’ ou ‘não sabe o que fala’. Então poder participar e aprender todo este conteúdo foi sensacional”, emenda.

Dayane Bubalo Mendes (direita) com seu cão-guia no Congresso de 2022: “Nós, pessoas com deficiência visual, só podemos estar definitivamente incluídos nos eventos por meio da audiodescrição.”

“Meu sonho é um dia estar lá um dia como palestrante, poder contar como certa noite fui dormir enxergando e acordei cega 40 minutos depois. E como eu consegui mesmo assim voltar a sorrir, sair do luto e reencontrar a felicidade”, finaliza Dayane.

Para Giovana Maria de Oliveira, que é surda e foi convidada nas últimas edições, o Congresso foi inesquecível. “É um evento importante para os surdos conhecerem o que significa felicidade. O evento tem intérprete de Libras, o que é fundamental – pois é o nosso direito linguístico. E muitos surdos não têm condições de comprar ingressos, então os que ganharam cortesias do Congresso ficaram sim muito felizes”, diz.

Giovanna (direita): “A presença de um intérprete de Libras é fundamental – pois é o nosso direito linguístico.”

Os povos originários, além de estarem na plateia, hoje têm lugar cativo também no palco do evento. Em 2022, participaram a indígena e ativista ambiental Samela Sateré Mawé; a cofundadora do Movimento Mulheres do Xingu, Watatakalu Yawalapiti; e Dona Francisquinha Arara, curandeira. Este ano, estarão presentes o líder espiritual Mapu Huni Kuî e a mestre artesã Txana Bismani Huni Kuî, ambos da Terra Indígena Ashaninka Kaxinawa do Rio Breu, na fronteira entre Brasil e Peru, compartilharão suas perspectivas sobre “felicidade e simplicidade”.

Indígenas e povos originários, presentes na plateia e no palco do Congresso.

Para a edição de 2023, ainda restam alguns ingressos disponíveis, que podem ser obtidos pelo site www.congressodefelicidade.com.br.

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SERVIÇO

Congresso Internacional de Felicidade

• 18 e 19 de novembro

• Centro de Exposições do Parque Barigui – Curitiba

• Programação e inscrições: www.congressodefelicidade.com.br