### Millôr Fernandes adivinhou o futuro ao criar boa parte de sua obra. Charges, frases e aforismos publicados nas décadas de 1970, 80 e 90 parecem encomendadas sob medida para 2019. Não que o jornalista fosse alguma espécie de Nostradamus – embora tenha recebido certa vez o apelido de “Guru do Meyer”. O fato é que muita coisa ainda continua, até hoje, igualzinha a como era antes: ele já retratava com inigualável verve e humor ácido a corrupção, a burocracia, o populismo, os grampos telefônicos de autoridades, as delações, a violência, a estupidez. “O Brasil tem um passado enorme pela frente” era uma dessas suas máximas. Bingo.
Não tivesse partido dessa para melhor aos 88 anos, em 2012, o mestre teria em mãos farto material para continuar criando. O fato é que sua obra segue atual e factual.
Não sabemos por qual motivo, mas a página oficial do Millôr, que continha um volume considerável de seu acervo, saiu do ar. Até por isso é importante celebrá-lo sempre e relembrar sua obra de tempos em tempos.
Em se tratando de jornalismo brasileiro, Millôr é um ícone e (ao menos deveria) uma inspiração. Não foi apenas jornalista e desenhista, mas escritor, tradutor, dramaturgo. Um grande ídolo para nós da zelig. Começou a trabalhar ainda jovem na revista O Cruzeiro, iniciando precocemente uma trajetória pela imprensa brasileira que deixaria sua marca nos principais veículos de comunicação do país por mais de 70 anos.
Um de nossos livros prediletos é Millôr Definitivo – A Bíblia do Caos, que traz 5.142 pensamentos, preceitos, máximas, raciocínios, considerações, devaneios, ideias, obsessões, meditações, despropósitos, sandices, reflexões, insultos, desabafos e paranoias do autor. Nele, aprende-se uma lição interessante: vindo de um gênio, mais vale um mau trocadilho do que trocadilho nenhum.
A zelig selecionou 39 dessas frases e algumas charges atualíssimas para os nossos leitores saborearem sem moderação: