Duo argentino Kizun abre em Curitiba sua segunda exposição individual

Obra da dupla visa a inserção da tatuagem como legítima expressão das artes plásticas. Mostra “Piezas” faz parte do Visiva 2017, no Estúdio e Galeria Teix

Eles atuam juntos há 4 anos como um duo em seu estúdio em Buenos Aires, Argentina. E pela segunda vez serão protagonistas de uma exposição individual – agora em Curitiba.

Valeria Fukugana, 33 anos, e Pablo de Medio, 29, são dois artistas plásticos argentinos que formam o Kizun, um projeto que pretende executar a arte nas mais diferentes plataformas – a principal delas é a pele humana, onde concentram a maior parte de seu trabalho. Pela segunda vez estão em Curitiba, ambas a convite do Estúdio e Galeria Teix. Agora, além de tatuar como residentes da casa, serão também os protagonistas da exposição de arte que é uma das principais atrações do Visiva 2017 – o grande encontro de arte e tatuagem artística realizado anualmente na cidade pelo estúdio/galeria. Os Kizun, aliás, foram os responsáveis pela criação do logotipo do Visiva 2017.

Em meio à montagem da exposição “Piezas” Valeria e Pablo falaram à Zelig sobre seu trabalho, o cenário da tatuagem e a mostra em Curitiba. Confira:

 

– Zelig: Esta não é a primeira exposição de vocês, certo?

Pablo: Já tivemos a oportunidade de participar de uma convocatória da Aliança Francesa em Buenos Aires, além de outras coletivas.

Valeria: Sempre buscamos ampliar nosso trabalho para além da tatuagem, levá-la para outros suportes. A tatuagem ainda é nossa principal fonte de trabalho mas sempre que há a possibilidade de ampliar esse campo nós o fazemos – apesar de na Argentina ainda haver um preconceito muito grande no circuito de arte tradicional pelo fato de sermos tatuadores.

Pablo: Até por isso, sempre que podemos nós fazemos questão de inserir a tatuagem nesse meio das artes plásticas tradicionais. Na Argentina, muito mais do que no Brasil, a tatuagem está muito separada e distante das outras artes; a tatuagem ainda é um ofício bastante discriminado.

– Apesar de serem mais conhecidos pela tatuagem, como é essa experiência com as artes plásticas.

Valeria: Sou professora de artes e pintura. Sou acadêmica de Artes Plásticas e me formei nesta escola tradicional. Já participei de programas de arte contemporânea e agora estou estudando pintura japonesa. Quando acadêmica, eu nunca havia imaginado que fosse tatuar e tampouco conhecia este universo, foi algo que surgiu mais tarde.

Pablo: Eu comecei a trabalhar com fotografia e cinema, passei por alguns estúdios, e depois a passei a me interessar e me aprofundar em arte digital. E foi nesse momento que me encontrei também com a tatuagem. Me transformar em tatuador, criar uma imagem e transpô-la em uma tattoo, é algo que aconteceu de forma bastante natural.

Valeria e Pablo em frente à galeria Teix, e sob e a grande mão que criaram para ser símbolo do Visiva 2017.

– O que vocês vão apresentar nesta exposição aqui na Teix ?

Pablo: A mostra se chama “Piezas” (“Peças”, em português). Basicamente a ideia é mostrarmos nesta exposição a forma como trabalhamos. Dizemos que nosso trabalho só existe porque há um “outro”, nossa obra sempre começa a partir de outro. Então, a mostra reforça este conceito.

Valeria: Kizun tem um trabalho bastante livre, mas na tatuagem sempre partimos do desejo de outra pessoa.

Pablo: Partimos do ponto de que cada pessoa no mundo é distinta, então cada tattoo também deve ser distinta. Cada corpo é um suporte também distinto – seja pela firma física, pela personalidade… Este é um fator muito importante dentro de nossa obra. Por isso chamamos a exposição de “Peças”: ela se formou basicamente a partir de diversas de pessoas que chegaram até nós para ter esta experiência.

Valeria: A exposição tem uma única instalação. Pensamos muito sobre o que mostrar, fomos à Europa buscar referências e em Buenos Aires acabamos de dar forma à mostra.

Obra de Kizun em um casal argentino.

– Vocês tatuam juntos há quanto tempo?

Pablo: O duo Kizun tem quase quatro anos.

Valeria: Mas já tatuávamos individualmente antes. Eu trabalho com tatuagem há cinco anos.

– É a segunda vez de Kizun no Brasil. Vocês veem muita diferença entre a cena da tatuagem argentina para a daqui?

Pablo: Sim, há muita diferença. Acredito que, até por uma questão de volume, aqui no Brasil há um número muito maior de tatuadores autorais. Na Argentina, ainda há um foco muito grande na tattoo tradicional. A mudança que já aconteceu aqui está começando por lá somente agora, mas de forma muito lenta. Aqui certamente há muito mais veia artística dentro da tatuagem.

Valeria: Aqui a gente sente uma outra vibração, uma sinergia muito linda entre os tatuadores de várias partes do país que viajam para outros estados e trocam suas experiências e conhecimentos.

Pablo: Até por isso nós sempre

– Vocês tem alguma técnica preferida?

Pablo: Para criar, somos muito livres. Buscarmos referências, usamos fotos, imagens, pinturas outros elementos.

Vale: Criamos pinturas com diferentes técnicas. Pintura acrílica, com pincel, um estilo mais pesado, ou estilo japonesa, mais aguada. São várias técnicas, dependendo do objetivo e do efeito que queremos dar à tattoo.

A composição que deu origem ao logotipo do Visiva 2017.

– Vocês criam e executam os trabalhos em conjunto ou individualmente?

Vale: Temos nossos trabalhos individuais, mas como Kizun trabalhamos a quatro mãos em todas as obras. É um trabalho realmente colaborativo. Nós entrevistamos juntos a pessoa interessada na tatuagem e criamos juntos, de acordo com o tipo de trabalho que ela espera. Às vezes tatuamos juntos também, principalmente nos desenhos maiores, mas é algo mais difícil.

 

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S E R V I Ç O

Exposição “Piezas”

Kizun, de Buenos Aires

Local: Galeria Teix (Al. Augusto Stellfeld, 1581)

Abertura nesta sexta-feira (13), às 18 horas, junto com a abertura oficial do Visiva 2017. Coquetel e show da banda Gringo’s Washboard. Entrada franca