Capone canta a CIC além do bem e do mal

Arte da capa por João Paulo Teixeira
Foto por Ramiro Pissetti

Em seu primeiro trabalho solo, Capone se arrisca com mensagem ousada sobre a vida no bairro onde nasceu – um dos maiores da periferia de Curitiba. Clipe do single tem participação de Nego Jam (RZO) e será lançado nesta segunda-feira (9).

 

O primeiro projeto solo do músico Capone não podia ter outros nome e inspiração. “Cidade Industrial” é o primeiro EP do compositor que, com a autoridade de quem é nascido e criado na CIC – um dos maiores e mais violentos bairros de Curitiba –, ousa na linguagem poética e musical para falar do mundo do ponto de vista de sua “quebrada”.

“Era algo que eu senti que precisava falar neste momento. Das pessoas que construíram a história deste lugar tão importante para a cidade. Ninguém é coitadinho ou bandido porque vive aqui. Queria mostrar a CIC além do bem e do mal”, conta.

Produzido por Bruno Sguissardi (da banda Anacrônica), o trabalho tem três faixas. A primeira é a canção Opção, com uma letra de Capone que reflete sobre como sempre, no limite, há uma escolha a se fazer na vida. “Tenho muitos amigos que hoje estão na rua, caras inteligentes e legais que talvez tenham feita escolhas não tão boas quando era a hora de tomá-las”.

A segunda é o single, a canção-título Cidade Industrial, que fala da relação de Capone com o território que tão bem conhece, suas mazelas e as histórias de superação e esperança. “A música surgiu de uma série de conversas madrugadas adentro sobre como é a vida aqui na Cidade Industrial. Num desses momentos, o Bruno escreveu a letra inteira”.

A terceira faixa, Luar, é sobre a paternidade feita para o nascimento de seu filho Raul. “É sobre a hora em que cara entende que tem que segurar a onda”.

“Tenho muitos amigos que hoje estão na rua, caras inteligentes legais que talvez tenham feita escolhas não tão boas quando era a hora de tomá-las”.

Guinada artística – Segundo Capone, o projeto nasceu de uma necessidade que o compositor sentiu de se “arriscar como artista”. Desde 2007, ele é vocalista e compositor da banda Javali Banguela, ao lado de outros músicos que também são amigos de infância do bairro.

No ano passado, porém, Capone sentiu que tinha que colocar seu trabalho em outra perspectiva. “Sempre toquei com amigos, o que é bom. Nossa banda continua e eu adoro fazer parte dela, mas não dá pra negar que com o tempo é fácil entrar numa zona de conforto”, disse. “Percebi que precisava fazer algo diferente, tocar com outros músicos em outro nível de produção e ter outra experiência e principalmente me arriscar a dar uma mensagem que eu considero muito importante”.

Para tanto ele procurou Sguissardi, que se propôs a trabalhar nas canções escritas por Capone. As gravações foram feitas no Nico’s Studios em cerca de dois meses. Nas sessões, Sguissardi tocou as guitarras, Timio Deustiante (ex-King Kong deconga) tocou baixo e Marcelo Bezerra (Anacrônica) bateria.

 

Clipe mostra união de um bairro que é uma cidade à parte

Nesta segunda-feira (9 de outubro) o álbum será lançado em um coquetel para convidados no Dom Capone Pizza Rock, o espaço que o músico administra há doze anos e que virou posto avançado do rock (e da boa em música em geral) na Cidade Industrial de Curitiba.

O Dom Capone, uma mistura de pizzaria e casa de shows na borda da Vila Nossa Senhora da Luz, tem uma estrutura técnica invejável e é hoje um dos principais palcos de Curitiba – por lá já passaram bandas como Relespública, Maxixe Machine, Escambau, Anacrônica, Blindagem e artistas como João Lopes e Wander Wildner.

Na terça-feira, estará no ar, no youtube, o clipe do single “Cidade Industrial”, dirigido por Rapha Moraes – um plano-sequência de Capone caminhando pelas ruas e becos da Vila Oswaldo Cruz I, na CIC, com amigos e moradores do bairro. “Eu me criei naquela rua, a minha mãe ainda mora ali”, conta.

A gravação, num domingo de manhã, mostrou a força da união da comunidade do CIC. “A gente divulgou para os amigos e vizinhos, no boca a boca. Achamos que viriam umas trinta pessoas. Na hora, vieram mais de cem. Foi emocionante. Estão ali alguns personagens fundamentais do bairro como seo Antônio, que tem 85 anos e trouxe a netinha. O pessoal do rap e do grafite também formou e ficou do jeito que a gente queria”.

O single e o clipe têm participação do rapper paulista Nego Jam, famoso pelo trabalho com o RZO, clássica formação do gênero da Zona Oeste de São Paulo. Capone o conheceu na barbearia do Chico, na CIC. “Ele foi casado com uma velha amiga do bairro e trocamos uma ideia na barbearia e ele topou na hora”.

Durante uma passagem do RZO por Curitiba, em dezembro do ano passado, Nego Jam gravou no Nico’s Estudio o texto dele. As imagens do clipe foram captadas por Rapha Moraes na Praça da Sé, centro de São Paulo.

“A gente divulgou para os amigos e vizinhos, no boca a boca. Achamos que viriam umas trinta pessoas. Na hora, vieram mais de cem. Foi emocionante. Estão ali alguns personagens fundamentais do bairro como seo Antônio, que tem 85 anos e trouxe a netinha. O pessoal do rap e do grafite também formou e ficou do jeito que a gente queria”.