Barão de Itararé, um ícone do jornalismo e do humor político
Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Apporelly, mais conhecido pelo falso título de ‘Barão de Itararé’, foi um personagem dos mais interessantes da história do jornalismo e do humor político brasileiro.
Desde criança demonstrava habilidade com a escrita e a tendência ao humor irreverente. Estreou no humorismo em 1908 num panfleto chamado “Capim Seco”, do colégio onde estudava, satirizando os padres jesuítas. Abandonou o curso de Medicina no quarto ano para se dedicar a escrever em jornais e revistas, como “Kodak”, “A Máscara” e “Maneca”. Em 1924 mudou-se para o Rio de Janeiro e foi contratado pelo jornal O Globo. Em 1925, foi convidado a colaborar com o jornal A Manhã, no qual publicava seus sonetos de humor que, geralmente, tinham um político como tema.
Um ano depois, criou o semanário que viria a se tornar o maior e mais popular jornal de humor da história do Brasil. Bem ao seu estilo de paródias, o novo jornal foi batizado de A Manha, e usava a mesma tipologia do jornal em que trabalhava – mas sem o til, obviamente. Para estreia tão libertadora, Apporelly não perdeu a data de 13 de maio de 1926. A Manha nascia para ser independente.
Durante a Revolução de 1930, com a ameaça de uma batalha sangrenta em Itararé – na divisa de São Paulo com o Paraná –, criou o personagem Barão, com o qual passou a assinar suas ácidas colunas.
Em 1934, fundou o Jornal do Povo. Devido às críticas aos governos, personalidades políticas e instituições, Torelly foi preso, espancado e censurado. Após o episódio, voltou à redação do jornal e, mantendo o seu espírito humorístico, colocou uma placa na porta com a inscrição “ENTRE SEM BATER”.
Em 1935, foi preso por ligações com o Partido Comunista, então clandestino. Foi libertado em dezembro de 1936, já ostentando a volumosa barba que cultivaria pelo resto da vida.
A Manha ainda circulou esporadicamente até os anos 1950s.
Apporelly morreu em 1971, dormindo, em seu apartamento no bairro carioca de Laranjeiras.
Deixou uma série de aforismos, publicados em 1985 pela Editora Record no livro Máximas e Mínimas do Barão de Itararé. E a zelig selecionou alguns deles:
- O uísque é uma cachaça metida a besta.
- O que se leva desta vida é a vida que a gente leva.
- A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer.
- Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.
- Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.
- A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.
- Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.
- Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.
- Mantenha a cabeça fria, se quiser ideias frescas.
- O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.
- Quem ama o feio é porque o bonito não aparece.
- Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.
- De onde menos se espera, daí é que não sai nada.
- Quem empresta, adeus.
- Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.
- O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
- Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.
- A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
- Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
- Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.
- O fígado faz muito mal à bebida.
- O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.
- A alma humana, como os bolsos da batina de padre, tem mistérios insondáveis.
- Eu Cavo, Tu Cavas, Ele Cava, Nós Cavamos, Vós Cavais, Eles Cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo…
- Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.
- As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes, isto é, se cura, cobra, e se mata, cobra.
- Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra!
- Devo tanto que, se eu chamar alguém de “meu bem”, o banco toma!
- Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta…
- Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.
- Quem inventou o trabalho não tinha o que fazer.
- O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
- Em todas as famílias há sempre um imbecil. É horrível, portanto, a situação do filho único.
- Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados.
- Quem não muda de caminho é trem.
- A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.
- O Brasil é feito por nós. Está na hora de desatar esses nós.
- O mal do governo não é a falta de persistência, mas a persistência na falta.
- Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse a você.
- A sombra do branco é igual a do preto.
- Este mês, em dia que não conseguimos confirmar, no ano 453 a.C., verificou-se terrível encontro entre os aguerridos exércitos da Beócia e de Creta. Segundo relatam as crônicas, venceram os cretinos, que até agora se encontram no governo.
- O bacalhau é um peixe lavado e passado a ferro.
- As mulheres de certa idade nunca são de idade certa.
- Deus dá pente a quem não tem cabelo.
- Os vivos são e serão sempre, cada vez mais, governados pelos mais vivos.
- A guerra é uma coisa tão absurda e incompreensível que, quando se registra um combate de amplas proporções, até as baixas são altas.
- Mais vale um galo no terreiro do que dois na testa.
- Todo homem que se vende, recebe muito mais do que vale.